quarta-feira, 13 de junho de 2007

Homens e Bactérias ou Para Além dos Homens-Bactéria

O homem, produtor e produto da cultura, envolvido em teias de relações sociais historicamente construídas, um animal sedento, capaz de transformar o mais inóspito ambiente num lugar possível de existência. As adversidades dos meios físico e social são estímulos para o fazer-se humano. A luta constante pela vida torna-o mais forte e o estimula na busca por novos horizontes. Tentando compreender o mundo elabora interpretações sofisticadas sobre as coisas, possibilitando um situar-se, reencontrando-se consigo mesmo, com os outros homens e com a natureza.
Os milhões de anos que trazemos às costas forjaram essa espécie particular na qual nos tornamos, capaz de pensar o passado e o porvir e, algumas vezes, o presente que nos sufoca ou liberta.
Embora sejamos capazes de criar todo tipo de explicação, seja ela mitológica, mística, religiosa ou científica, em alguns momentos históricos a capacidade do entendimento e da compreensão parece desaparecer ou é sublimado por um falso entendimento, que nos leva a deixar de observar o horizonte, criando um sentimento de incerteza, desesperança e desilusão.
São períodos como esse que colocam em questão os milhões de anos de nossa caminhada por este pequeno planeta. Vemo-nos como vermes e insetos que corroem as entranhas do planeta e de nossos próprios agrupamentos sociais. Bactérias e vírus destruindo o que a natureza e nós mesmos levamos tanto tempo a construir. Eis o que parecemos ser atualmente, criaturas estúpidas que diante daqueles homens que descobriram o fogo e inventaram a roda, não passamos de anões de jardins, de enfeites mal confeccionados de um carnaval fora de época.
Parasitas de nós mesmos, sanguessugas vorazes, carniceiros e mensageiros da destruição: é nisso a que vamos nos reduzir? Temos saída? Ainda é possível alcançarmos o interruptor que religa a luz do fim do túnel? Quem se aventurará nesse caminho? Quem ainda tem uma migalha de esperança? Há ainda alguma coragem para enxergar e construir o novo, o diferente? Vale a pena tentar? Há ainda quem queira entregar-se?

Publicado em Ponto de Mutação – Libelo da Desconstrução, ano I, n. 1, nov./06, p. 02

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